sábado, 15 de março de 2008

Feche a torneira!


Seja um herói
[leia-se clichê]
O fato é que o ser humano está morrendo. A modernidade não trouxe consigo apenas novas descobertas, realizações de antigas utopias, conforto e rapidez. Trouxe, acima de muitas coisas, uma sociedade frígida, cada vez menos humana. Estamos nos esquecendo das nossas origens e, estranhamente, estamos deixando de nos preocupar com o futuro. Isto é, cada um se preocupa intensamente com seu próprio bem-estar, sem entender, no entanto, que esse método egoísta de viver prejudica inclusive a sua própria vida. Deslanchar uma carreira primorosa, ser economicamente imbatível, ter reconhecimento profissional, crescer na vida em detrimento dos anseios de outrem não é saudável para quem é deixado de lado, e muito menos para quem vive com a falsa sensação de sucesso absoluto.

Isso tudo não é exatamente novo. A não ser pelos conceitos inventados após o surgimento do capitalismo, como o salário e a mais valia, toda essa agrura desenvolvida pela sociedade já está aí desde os primórdios da civilização. Caim matou Abel, Luther King foi assassinado em 1968 e Betinho morreu com AIDS, adquirida em uma transfusão de sangue, em 1997. A diferença é que hoje nós temos instrumentos mais hábeis na arte de destruir. Muito mais que a pólvora e os agentes biológicos nocivos à saúde, hoje temos uma refinada ignorância. Pasme ao saber que, após milhares de anos de história, descobertas e invenções, o humano dos seres está à beira de um abismo por causa da propagação e eventual desenvolvimento de uma única palavra que, como se não bastasse carregar em si a ausência de conhecimento, ainda denuncia o despreparo e a falta de vontade para ir atrás desse saber que não existe. É pela ignorância que se chega ao preconceito, ao egoísmo e à morte de tudo aquilo que poucos seres humanos conseguiram, ou morreram tentando difundir: a humanidade.

Toda essa conversa já é muito clichê, eu sei. É complicado escutar, ou ler, coisas desse tipo, quando se tem certeza de que todas as mudanças propostas não passam de idéias utópicas, cheias de sentido, mas sem um pingo de realidade. Todo mundo já sabe que falar é fácil, mas sabe também que agir nem sempre é impossível. Caminhamos ainda (ou tentamos) atrás de mudanças, de novas formas de viver e recriar o nosso mundo, a nossa sociedade. Os nossos pés no chão não nos deixam acreditar na possibilidade de mudar a mentalidade de seis bilhões de pessoas, mas continuamos tentando.

É por esse, e outros inúmeros motivos, que o nosso mundinho pequeno deve ser o primeiro a participar da nova realidade sugerida: mais saúde mental, espiritual e física. O que demais há em deixar o motorista ao lado te ultrapassar, desligar o chuveiro na hora de passar o sabonete, pensar duas vezes na hora de votar, sorrir para o porteiro do prédio, participar de movimentos em favor de causas justas? Coisas bobas? Sim. Para quem acha que gastar 162 litros de água em um banho de dez minutos, levando em consideração que em algumas centenas de anos estaremos guerreando por água potável, é normal, e nem um pouco ignorante.

Mudar o funcionamento de uma sociedade que teve sua origem primeira baseada em um assassinato bíblico, que assistiu à morte de cerca de seis milhões de pessoas no holocausto de 1941, e que aceita essa caminhada livremente insana da corrupção lado a lado com a miséria, é praticamente um ato heróico. Saber que existiram, seguir e reverenciar Mahatma Gandhi, Che Guevara, Dorothy Stang, Frei Betto e cada uma das pessoas que não deixam com que os poucos seres verdadeiramente humanos não sejam esquecidos é o que nos instiga a ter um ponto de esperança e boa vontade, de ler, escutar, agir e acreditar que os heróis ainda existem, e que pode haver um bem aí com você.

4 comentários:

Gharon, O Silencioso disse...

Precisamos mudar nossa atitude perante os outros e perante a nós mesmos. Precisamos deixar de ter vergonha de mudarmos nossas atitudes, seja perante aos outros, seja perante o espelho.
"O que você faz quando ninguém te vê fazendo? Ou o que você queria fazer, se ninguém pudesse te ver?"
As atitudes-respostas para essas perguntas deveriam ser em favor do bem-maior, do mundo, da sociedade, e não de nós mesmos.

Muito bom texto!

Neto Macedo disse...

Clichê sim, mas bonito. Ficou tudo muito bonito, esse negócio de falar sobre a humanidade e a ignorância. O fato é que sempre existirão os ignorantes no mundo. Sabe porque? Porque por mais que o cara adquira conhecimento, sempre vai haver um à frente deles mais evoluído. E esses mais evoluídos serão poucos, transformando o resto em ignorantes. =\

Mais saúde Manuh, com certeza, é isso que precisamos... Agora dá liscença que eu vou ali buscar um cigarro. ^^

manuh disse...

rsrs..

neto..

=]

Anônimo disse...

Muito bom esse texto, todos nós podemos fazer um pouco, que cada um feche a sua torneira...
????
Mas pensando bem...esse mundo não tem mais solução, como podemos dizer pra uma pessoa que passa fome, frio, é violentada que ela deve fechar sua "torneira"...aham

Desisto...o que fazer se os politicos, nossos representantes estão nos apunhalando pelas costas( se bem que hoje em dia é na cara mesmo)é não tem jeito desisto...
se vc tiver alguma solução divida com todos nós...
mas pra jovens pelo menos temos essa consciencia, o que já é um começo, pra pequena minoria que ainda se dá ao luxo de pensar num mundo tão alienado...