A vida me deu o dom de ser mais eu quando estou triste. Dom ou infelicidade... Não sei ao certo, ainda. Hoje me ocorreu que tudo poderia ser mais fácil se tudo fosse diferente do que é. Mas é sempre assim. E por que não olhar o lado bom das coisas? Simples: ninguém nunca me ensinou como se faz isso. Como me ater ao sorriso, e só. Sorrisos nem sempre são sinceros. E palavras de amor não são mais que futilidade. Existe, porém, quem sabe se distinguir dentre os demais. Os demais que não são mais que pedras no caminho. Existe... eu só preciso encontrar. Ou me encontrar no meio deles. Hoje a tristeza bateu de mansinho no peito. Aquela dorzinha boba, mas suficientemente chata. Hoje eu pedi uma mão, e não havia mãos que me acudissem. Bati na porta, e não havia quem abrisse. Hoje eu queria que alguém me ligasse pra perguntar como vai a vida, como eu estou... Mas meu telefone não toca. Estou mesmo me desacostumando a ser eu. Me desacostumando com a dorzinha boba. E ela era tão... inerente. Hoje a esquina estava longe, o dia demora a passar, os rostos estão ranzinzas. Me dá aqui a sua mão... sente como o coração bate descompassado. Faz ele parar de bater, assim, como criança que soluça de tanto chorar. Encosta aqui o seu corpo... sente como minhas pernas tremem, meus braços gelam. Sente como eu estou com medo. Me abraça, e faz o medo parar. Encosta aqui a sua boca... vê como eu respiro difícil, como quem não tem ar. Olha nos meus olhos... repara na pupila que dilata, repara nas pálpebras desarmadas. Vem com os seus dedos delicados, e seca essas lágrimas que teimam em cair.