segunda-feira, 23 de junho de 2008

"sei lá"

sei lá. acordei pensando em me casar cedo. ter um filho cujo nome será joão. nas férias ele irá visitar os avós. meu pai o ensinará a montar cavalos altos, pescar com varas artesanais, sinucar modestamente, ler os detalhes da vida roceira, caminhar por entre matas sem se cortar. vai pegá-lo no colo, segurá-lo no alto com apenas uma das mâos, fazendo minha mãe preocupada com a possível queda, como era comigo quando pequena. vai chamá-lo "joãozinho" quando carinhoso, e "joão sobrenome" quando perder a paciência. fazer-lhe cócegas antes de dormir. vamos rir juntos das palavras erradas ditas aos dois anos, das gargalhadas safadas, da carinha de "não fui eu" que fizer quando for ele. minha mãe irá pegá-lo nos braços, acariciar sua nuca e fazer suco de laranja com pão de queijo quando tiver febre. vai ler trechos da bíblia com minha avó, dançar cantigas de roda, escutar suas histórias de menina, extasiado com a diversidade de coisas que eram possíveis há 60 anos, e que hoje não são mais. vai cantarolar enquanto meu avô arranha sua sanfona, e dizer que são lindas todas as oito músicas iguais que ele toca. vai aprender a jogar pedrinhas, pular corda, banhar-se nos rios, sentir o sol quente do sertão secar sua pele, correr atrás das galinhas, beber leite quente direto das tetas da vaca. vai jogar futebol com o tio, comer vatapá, feijoada, picado de banana, frango ensopado, quenga de milho, arroz com pequi. vai se lambuzar de manga e umbu. vai olhar para o céu e aprender que as fadas transformam as nuvens em animais ferozes. vamos nos deitar na rede e rir dos causos da família. vamos passar as férias de julho e janeiro juntos. e o natal. o ano novo. ele vai cortar o queixo um dia, correndo por entre as pedras das ruas da pequena cidade onde eu nasci. vai chorar de medo dos palhaços do circo, e da roda gigante. vai me abraçar e dizer "te amo mamãe". e chorar de raiva quando eu disser não. vai conversar ao telefone com os avós, sem saber ainda falar. contar que fui má, para que seja mimado. vai saber a difereça entre a verdade e a mentira, e vai mentir, estando certo de que eu sei não ser verdade. vai ser travesso, inquieto, barulhento e engraçado. vai amar a humildade e o caráter das pessoas. vai aprender com avô que é preciso se preocupar com o futuro. mas só fará isso no futuro. vamos fazer barquinhos de papel nos dias de chuva. e colocá-los contra o vento quando a chuva cessar. vai saber que a avó é a mais doce das mulheres, e a mais preocupada. que o avô é omais piadista, e o mais impaciente dos homens. vai ter os meus olhos, e alguma coisa boa do pai. e um jeito próprio. vai conversar rápido, rir devagar, atravessar a rua sem olhar para os lados.
não vai ser filho único, mas o primeiro. e vai se sentir bem por isso. vai gostar de ler e escutar boas músicas. ser gentil com os mais velhos. terrível com os mais novos. vai acreditar que a sua mãe não tem defeitos, e chamar o seu pai de super-herói.

6 comentários:

Caroll . disse...

Belas palavras, me fez imaginar cada ação, cada sorriso, cada reação.
Lembrei-me do texto do Medina [rs].


Deveras sinestésico.

=]

CésaNegaum disse...

Manuh e seus singelos devaneios ...

Anônimo disse...

Moss.
todo comenatário que eu faço sai com "Instituo geraes de ate independente .."
UQe merda ..Vô queimar o filme do negocio ..
heeheehe
yeah yeahh .

manuh disse...

césar.. césar..

Leka Lemos disse...

a vida campesina mexeu com vc...srsr
Mas, é lindo!

manuh disse...

a vida campesina sempre mexe comigo.

mas logo passa.